sê livre
não contes os minutos
não penses nas horas
és tão feliz que esqueceste a existência do tempo
és livre
Tentava adormecer na esperança vã de descansar.
Estava exausto.
Todas as manhãs o mesmo ritual
Todas as tardes
Todos os dias
Todas as noites
A preocupação.
Os lençóis, por mais envolventes e convidativos
Assemelhavam-se sempre a teias demoníacas que profanavam o seu corpo.
Lutava até à exaustão.
Ainda nelas envolto,
Deixava de sentir
O corpo.
Divagava.
Acreditava que finalmente conseguiria dormir.
Apenas se avizinhavam horas de sofrimento vazio.
Deixava de sentir
A alma.
Era invadido por pensamentos tortuosos
Assombrado.
Até finalmente se deixar ir
Até finalmente deixar de existir
Até….
Acordar
Distância
Separação
Tenho sido por elas acompanhado nestes meses sem ti.
Não o sabia. Apenas agora me apercebi.
Vejo-te em todo o lado
Ver-me-ás a mim?
Acompanho-te
Tal como distância e separação o fazem comigo.
Olho para ti. Ou penso olhar.
Para aquilo que resta de ti.
De nós.
Dos tempos em que éramos 2.
Dos tempos em que éramos 1.
De todas as distâncias.
De todas as separações.
De todos os reencontros.
Aguardo
Aquilo que sempre quis.
Aquilo que sempre pensei ter.
Aquilo que jamais terei. Que nunca será meu.
Nosso
Estou certo. Nunca o fui
Havia passado mais de uma semana desde a sua primeira aula. Apesar de se ter comprometido consigo mesma a ir regularmente às aulas a verdade é que aquela primeira de quase quatro horas a havia deixado sem qualquer vontade de voltar sequer a olhar para o livro.
Ainda assim, acabou por tomar a decisão de ir mais uma vez. Era sexta-feira e rapidamente se arrependeu mal ouviu o despertador tocar lembrando-a da pasmaceira que a esperava. Era a primeira e última vez que acordava de propósito para tal.
Já passava das dez horas quando entrou na escola. Estranhou não ver ninguém na recepção mas isso não a demoveu de entrar na sala de aulas.
Boquiaberta lá se conduziu à cadeira mais próxima do quadro. Era o atraente jovem quem lá estava, diante dela, cumprimentando-a com um sorridente “Bom dia” e perguntando-lhe o nome.
Achou que ele não tinha particular jeito para o ensino, no entanto, considerou a aula bem mais interessante do que a primeira.
- Desculpa Sara, esta aula tem que ser um bocado diferente porque o Bruno está quase a ir a exame, mas para a semana começamos isto como deve de ser, ok?
“Sara”, o seu nome, essas quatro letras por ele proferidas fizeram-na estremecer. Nunca semelhante lhe havia acontecido. Apenas conseguiu acenar afirmativamente com a cabeça.
Apesar da promessa que havia feito umas horas antes, decidiu não voltar a faltar a uma aula da manhã. E assim foi, as manhãs, livres ocupava-as com essas aulas. Todos os dias tentava, sem sucesso, meter conversa no final da aula quando todos se haviam ido embora. Demorava, propositadamente, mais tempo a arrumar o seu material. Apesar da simpatia com que o jovem professor a tratava, era apenas mais uma aluna e ainda que mantivesse uma esperança em criar alguns laços com ele, esta tarefa parecia-lhe cada vez mais improvável.
Estava ansiosa que chegassem as férias da Páscoa para puder ir todas as manhãs para a escola. Contudo, mal estas chegaram, a vontade de acordar cedo era pouca e o cansaço juntamente com o aborrecimento que lhe causaram aquelas matérias acabavam por a manter na cama.
Só ao fim de quase uma semana de férias se dignou a lá voltar, desta vez sem qualquer vontade ou interesse em fazer sequer amizade com aquele homem inacessível, queria apenas sossego e de preferência pouca conversa. Não estava, de todo, com vontade de conviver.
(há de continuar)
- Olha que a minha mãe está quase a chegar.
- Não faz mal. Dá tempo.
- Mas o Jorge está cá em casa!
- Mas está entretido com os pokémons.
- E se ele se lembra de vir aqui?
- Achas? É impossível arrancá-lo do sofá…
- Mesmo assim… Não me parece boa ideia.
- Vá lá. Eu sei que também queres.
- Não insistas. Já te disse que não.
- Oh deixa-te disso… Tão cedo não temos oportunidade…
- Mas tem que ser rápido!
- É rápido, não te preocupes…
- Mesmo?
- Prometo. Agora chega cá…
- Ai não me toques aí…
- Porquê?
- Faz cócegas…
- Também me podes fazer cócegas…
- Tenho vergonha…
- Vá, eu ajudo-te.
- O que é que estás a fazer?!
- Nada…
- Nem penses que te vou tocar aí!
- Oh porquê? Depois admira-te que o teu irmão apareça, com o barulho que estás a fazer…
- (…)
- Não fiques amuada, estou a brincar contigo. Não fujas…
- (…)
- Não gostas disto?
- Até sabe bem…
- Posso?
- Tenho medo…
- Eu tenho cuidado…
- Ok…
- Ah…
- Está a doer…
- E assim?
- Está melhor, mas tenta ir devagarinho…
- (…)
- Aaaa…
- Shhhh…
- Hmmmmm…
- Hmmm…
- AH! Aaaaa….
- (…)
- Foi bom?
- Pensei que ia ser pior…
- Eu disse-te que não custava nada.
- E agora?
- E agora o quê?
- É só isto?