Dá-me vida por favor Sou tua. Já o larguei. Agarra-me. Quero roçar no teu colo Sentir-te. Sentes-me também? Ouve os meus gemidos. Sente-me arfar no teu ouvido. Ouve os meus gemidos ritmados. Era isto que querias? Ouve os meus gemidos pautados pelos gritos de desespero. Pára! Não pares. Continua! Deseja-me como se nunca me tivesses tocado antes Como se fosse a primeira vez. Tens-me submissa. Já o larguei. Agarra-me. Eu agarro-te. Não me largues.
Não porque o amasse. Não porque quisesse estar com ele.
Simplesmente porque sentia a sua falta.
A presença daquele homem na sua vida inspirava-a.
Relembrava aqueles negros cabelos de desregrados caracóis nos quais se perdia por tempos infindáveis. E aquelas mãos… Oh aquelas mãos! Aqueles dedos pequenos e rechonchudos a percorrerem-lhe o corpo com destreza enquanto lhe sussurrava tudo aquilo que ela desejava ouvir e que nenhum outro era capaz de dizer. Como adorava a voz dele, a forma como articulava deliciosamente as palavras num tom sério e convicto.
Passara meses a convencer-se do quão desnecessário ele era para o saudável decorrer da sua vida.
De facto, sempre que ele regressava o rumo normal das coisas descarrilava. A felicidade que sentia nestes momentos era depressiva, quase doentia. Levava-a a atentar as maiores barbaridades contra a sua pessoa.
O mundo parava quando ele a abordava. Os dias eram passados na esperança de uma palavra dele. Qualquer que fosse.
A tristeza acompanhava-a ao longo das horas em que ele não demonstrava sinais da sua existência.
Bastava uma palavra. Qualquer que fosse.
O sorriso louco preenchia-lhe de novo o rosto, o brilho era restituído ao seu olhar e tudo o resto desaparecia de novo. A sua vida fazia sentido uma vez mais.