sexta-feira, 4 de junho de 2010

carta a alguém

Haverá processo de comunicação mais impessoal que este? As letras estereotipadas sempre seguindo a mesma direcção, sempre iguais, sem sofrer qualquer alteração independentemente dos sentimentos que dominam quem as grafa. O conteúdo, esse, já poderá e deixará certamente transparecer todas essas emoções. No entanto, a nível de apresentação visual esta não pode ser mais desprovida de sentimentos. Um vulgar texto, escrito por tantas outras pessoas destinado às mais diversas criaturas, tratando dos mais distintos assuntos.
Mentiria se dissesse que não gostaria de obter resposta às questões que padecem incógnitas, mas mentiria também se dissesse que as espero. Não é isso que pretendo. Não sei ao certo o que pretendo… Talvez um último acto de alegada insanidade infundada. Qualquer que seja a motivação a única certeza é que tinha que o partilhar com alguém mais que comigo mesma.
Os meus pensamentos desenvolvem-se numa espiral tal que é difícil saber por onde começar e espero sinceramente que nada me escape. Seria uma lástima no fim de tantas palavras me aperceber que o mais importante ficou por dizer.
Como ser emotivo dotado de razão é natural questionar-me. Visto não obter respostas tenho que ser eu a criar esclarecimentos. As combinações são vastíssimas e temo passar os resto dos meus dias entretida com esta actividade sabendo pois que nunca chegarei a conclusão alguma.
Relembro momentos, relembro palavras. Palavras que dificilmente seriam proferidas quando não sentidas de facto. No entanto, quando muito repetidos quaisquer vocábulos perdem o seu valor.
Sempre assim pensei e sempre fiz questão de to dizer ainda que no fundo sentisse que por muitas vezes que ouvisse tais letras tão agradavelmente conjugadas nunca me cansaria, nunca deixaria de lhes dar valor. De facto não deixei de as valorizar, foram elas próprias que se deterioraram em si mesmas. Talvez tenha sido uma visão muito naif da minha parte, acreditar que o felizes para sempre talvez funcionasse para mim, para nós.
Por fugazes momentos acreditei que fosse amor. E de facto foi. Amor próprio. O teu egocentrismo e necessidade de adoração que tão aprazíveis são ao teu dissimuladamente monstruoso ego.
Tristemente me apercebo do quão deprimente é num tão curto espaço de tempo nos depararmos (me deparar) com tamanho imbróglio sentimental. Apercebo-me também do porquê de me questionar, do porquê de não conseguir afastar estes pensamentos das minhas noites em branco: és uma incógnita. No fundo não te conheço do todo, não passas de um semi desconhecido como te auto intitulavas, compreendo agora as tuas sábias palavras, não consegui sequer distinguir o real do imaginário.
Não me vou despedir, não faria qualquer sentido despedir-me de alguém que nunca conheci. Não vou dizer amo-te, não quero, não seria sentido. Nutro simplesmente um qualquer sentimento por ti, estranho, inexplicável, o qual nunca havia provado, o qual desejo agora nunca ter conhecido, pela dor que me causa, pela dor que sei que continuará a causar no meu coração dilacerado pelo sofrimento de algo que desconhece.

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