quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

a manhã seguinte


Não sabia que horas eram, apenas sabia que era noite cerrada e ainda que tivesse trazido relógio se esquecera por completo de que o tinha no pulso. Aquele ambiente, aquela casa que tão bem conhecia, estava estranha. Sentia-se no mesmo local, numa realidade paralela em que apesar de tudo ser igual a sempre, estava envolto numa névoa luminosa que exigia um enorme esforço para focar a realidade. Cruzara-se com inúmeras pessoas, muitas delas nunca as havia visto, outras, mesmo conhecendo, simplesmente não lhes via os rostos.

Sentia-se verdadeiramente bem. Que liberdade! Podia mexer-se como se ninguém a olhasse, dizer o que quer que fosse como se ninguém a ouvisse, não havia passado ou futuro, nem mesmo presente. Nada existia, apenas a sua alma. O tão conhecido egocentrismo, soube aí o que significava e não havia dicionário que o conseguisse explicar melhor do que o seu corpo naquele momento.

E de repente, um progressivo arrefecimento de alma que lhe gelou as mãos, o corpo.

Sentiu-se só.

Que era feito da anterior libertação?

Foi momentâneo.

Como que por antítese, segundos depois, um fervilhar. O calor humano. A liberdade, agora partilhada. Um desconhecido. A meiga respiração junto do seu pescoço. As mãos, os braços a envolverem-na. Que agradável sentimento de protecção. Os corpos encaixados como se aquela chave abrisse na perfeição a fechadura do seu corpo. O acelerar da respiração ritmada. O silêncio. Um gemido. Um grito.

Não sabia que horas eram. Apercebeu-se de que tinha o relógio no pulso mas não quis olhar para os ponteiros. Pela luz que se esforçava por penetrar aquelas velhas e pesadas cortinas depreendia que a noite já era finda. Estava arrepiada de frio. Estava exausta. Que sonho estranho havia tido!

Notou na estranha roupa que se encontrava no chão, era a sua. Fazendo um enorme esforço tentou alcança-la sem sair do seu ninho. Vestiu-se ainda entre lençóis. Foi então que tocou em algo. Virou o corpo. Que vulto era aquele? À semelhança de uma criança curiosa, procurou perceber quem era aquele ser deitado junto a ela.

Antes de conseguir tal proeza ouviu um rouco “bom dia” vindo desse estranho. Retribuiu timidamente e apercebeu-se então de que não só não sabia quem era aquele homem como não se encontrava em sua casa.

Que sonho estranho havia tido!

5 comentários:

  1. Imaginei


    Onde o nosso olhar não alcança

    A nossa mente inventa

    Liberta-nos das algemas de veludo do destino

    Purificando a nossa culpa

    Percorremos os nossos domínios

    Como se cada passo fosse rejuvenescer o que deixamos para trás

    Montamos O cavalo alado

    E bailamos em feudos ancestrais

    Entre os sorrisos de heróis renascidos

    Inalando suavemente o ambiente

    Descobrindo sobre viver

    Um dia dancei!

    Como agora dança a minha caneta sobre o papel

    Voei tão alto que não tive medo de cair;

    Abracei o tecto do mundo

    Como agora abraço o azul da minha caneta.

    Cai várias vezes

    Olhei em redor e apenas vi o fumo,

    Fustigando o caramelo do meu cigarro

    Prefiro imaginar que são pegadas

    Onde descubro que o eu será perpetuamente tu

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  2. há quanto tempo ;)

    continuas a escrever lindamente... ;)

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  3. Obrigada :)
    Também tenho passado no teu e acho exactamente o mesmo dos teus textos. Cada vez melhores :)

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